Curiosidades da Primeira Turnê do Metallica no Brasil

Entre os inúmeros fatos curiosos que cercam essa primeira visita do Metallica ao Brasil, um se destaca por seu caráter peculiarmente brasileiro: o transporte da banda em uma Volkswagen Parati 1.8 Plus durante sua estadia em São Paulo.

FitaRock7

3/15/20255 min read

Metallica no Brasil: Quando os Reis do Thrash Conheceram a Paratizona

O ano era 1989 quando o Brasil testemunhou pela primeira vez a presença da banda que já era considerada uma das principais forças do thrash metal mundial. Em uma época em que o rock pesado ainda lutava por espaço nas rádios brasileiras, o Metallica cruzou o hemisfério sul para uma série de shows históricos que ficariam marcados não apenas pela intensidade musical, mas também por peculiaridades tipicamente brasileiras – como o translado dos músicos em uma modesta Parati 1.8 Plus.

A Chegada dos Titãs do Metal em Terras Tupiniquins

O final dos anos 80 representava um momento crucial na carreira do Metallica. A banda já havia lançado álbuns fundamentais como "Kill 'Em All" (1983), "Ride the Lightning" (1984), "Master of Puppets" (1986) e estava em turnê promovendo seu recém-lançado "... E Justiça para Todos" (1988). Embora ainda não tivessem alcançado o sucesso comercial explosivo que viria com o "Black Album" em 1991, os quatro cavaleiros do apocalipse já eram ídolos absolutos no cenário underground mundial.

A expectativa para os shows brasileiros era estratosférica. O país, que começava a sair de uma longa ditadura militar e experimentava uma abertura cultural sem precedentes, tinha uma crescente cena de rock pesado, com bandas como Sepultura já despontando no cenário internacional. O público brasileiro, conhecido por sua intensidade e paixão, aguardava ansiosamente a chegada de James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Jason Newsted.

A Turnê Brasileira que Entrou para a História

A primeira turnê do Metallica no Brasil aconteceu entre os dias 7 e 15 de outubro de 1989, com shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A banda chegou ao país com uma estrutura modesta pelos padrões atuais, mas impressionante para a época. O set list incluía clássicos como "Creeping Death", "For Whom the Bell Tolls", "Fade to Black" e "One", além de outras faixas que já demonstravam a maestria técnica e a intensidade que tornaram o Metallica uma lenda do metal.

O primeiro show aconteceu no Estádio do Ibirapuera, em São Paulo, no dia 7 de outubro. A multidão que se aglomerou para ver a banda criou uma atmosfera elétrica que, segundo relatos da época, impressionou profundamente os músicos. Acostumados com plateias entusiasmadas ao redor do mundo, o Metallica encontrou no Brasil um público que elevou o conceito de "fã dedicado" a outro nível.

"Nunca vimos nada igual. A energia desses caras é insana. Literalmente insana." – James Hetfield em entrevista à revista Metal Hammer após o show em São Paulo.

Após São Paulo, a banda seguiu para o Rio de Janeiro, onde se apresentou no Ginásio do Maracanãzinho, e finalizou a turnê brasileira em Belo Horizonte, no Mineirinho. Cada show foi recebido com igual fervor, estabelecendo uma conexão especial entre o Metallica e o Brasil – relação que se mantém forte até hoje, com a banda retornando ao país diversas vezes ao longo dos anos.

A Paratizona: Um Detalhe Brasileiro na História do Metal Mundial

Entre os inúmeros fatos curiosos que cercam essa primeira visita do Metallica ao Brasil, um se destaca por seu caráter peculiarmente brasileiro: o transporte da banda em uma Volkswagen Parati 1.8 Plus durante sua estadia em São Paulo.

Para quem não conhece, a Parati foi um modelo de carro popular no Brasil, uma versão station wagon do Gol, produzida pela Volkswagen. Longe de ser um veículo luxuoso, a Parati era conhecida por sua praticidade e resistência – características que, ironicamente, combinavam com a atitude sem frescuras do Metallica naquela época.

"Para quem gosta ou conhece, foi uma Parati 1.8 Plus que fez o translado dos caras do hotel até a Woodstock, loja de discos em São Paulo. Metallica já andou de Paratizona aqui no Brasil", conta uma história que circula entre fãs e que foi confirmada por organizadores do evento.

A visita à Woodstock – uma das principais lojas de discos de São Paulo na época – foi um evento dentro do evento. Entusiastas do metal se aglomeraram em frente à loja para ver seus ídolos de perto, e a chegada do Metallica em uma simples Parati, em vez de limusines ou carros de luxo, só aumentou a conexão entre a banda e seus fãs brasileiros.

O Impacto Cultural do Metallica no Brasil

A primeira visita do Metallica ao Brasil teve um impacto cultural que transcendeu o universo do metal. No final dos anos 80, o país ainda vivia um processo de abertura cultural após anos de repressão durante a ditadura militar. Shows internacionais de grande porte eram relativamente raros, e a vinda de uma banda como o Metallica representava não apenas uma oportunidade de entretenimento, mas também uma forma de conexão com o mundo exterior.

O jornalista e crítico musical André Barcinski, em seu livro "Barulho", descreve o show de São Paulo como "um divisor de águas para a cena do metal brasileiro". Segundo ele, o profissionalismo e a intensidade da apresentação estabeleceram um novo padrão para shows de metal no país, influenciando tanto bandas quanto produtores e organizadores de eventos.

Para o Sepultura, que já despontava como a principal banda de metal brasileira na época, a visita do Metallica foi especialmente significativa. Max Cavalera, então vocalista e guitarrista do grupo, chegou a se encontrar com os membros do Metallica durante sua estadia em São Paulo, consolidando uma relação que ajudaria a abrir portas para o Sepultura no cenário internacional.

O Legado Duradouro

Mais de três décadas se passaram desde aquela primeira turnê, e a relação entre o Metallica e o Brasil continua forte. A banda retornou ao país diversas vezes, participando de festivais como o Rock in Rio e realizando shows solo que sempre atraem multidões. Em 2010, o Metallica quebrou recordes de público em São Paulo com um show para mais de 100 mil pessoas no Estádio do Morumbi.

O curioso episódio da Parati, embora seja apenas um detalhe nessa história, representa bem a peculiaridade da relação entre o Brasil e o Metallica. Enquanto em outros países as bandas eram recebidas com limusines e todo o glamour associado ao rock, no Brasil a realidade era diferente – mais simples, mas também mais autêntica.

Como disse Lars Ulrich em uma entrevista posterior: "O Brasil sempre foi especial para nós. Há algo no público brasileiro que é único. É uma mistura de paixão, loucura e autenticidade que não encontramos em nenhum outro lugar."

Um Convite para Relembrar

Para os fãs brasileiros do Metallica, especialmente aqueles que tiveram a oportunidade de presenciar aqueles shows históricos de 1989, as memórias são tesouros preciosos. A imagem de James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Jason Newsted saindo de uma Parati em frente à loja Woodstock em São Paulo é um símbolo perfeito do encontro entre uma das maiores bandas do mundo e a realidade brasileira – um encontro marcado pela simplicidade, autenticidade e paixão pela música.

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O rock brasileiro tem histórias fascinantes para contar, e a passagem do Metallica pelo país é apenas uma delas. Vamos continuar preservando e celebrando essas memórias que fazem parte não apenas da história do rock, mas da história cultural do Brasil.

Afinal, quantas bandas internacionais podem dizer que conheceram de perto o charme de uma autêntica "Paratizona" brasileira?